top of page

A 70ª reunião da SBPC e a importância defesa da ciência!


A 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, foi realizada ao final do último mês de julho, entre os dias 22 e 28, no campus da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em Maceió. O tema, “Ciência, Responsabilidade Social e Soberania”, não poderia ser mais atual e urgente, a luz da conjuntura de cortes de recursos financeiros para a ciência e desmonte do papel do brasileiro, intermearam o tom dos debates ao longo de todo o evento.

O encontro, que é o maior evento científico da América Latina, tradicionalmente reúne centenas de cientistas, pesquisadores, professores universitários, da educação básica e da intermediária, além de outras centenas de estudantes de todos os níveis e profissionais da iniciativa privada e de instituições públicas. A organização da 70ª Reunião da SBPC estima que ao longo dos 6 dias de inúmeras atividades, passaram pela sede da universidade alagoana cerca de 12 mil pessoas, o que contribuiu para o sucesso absoluto do evento.


A importância da reunião transcende a promoção da multidisciplinariedade e a troca intensa de conhecimentos dentro da comunidade científica, representando também uma grande oportunidade de abertura e interação com toda a sociedade, sobretudo no presente momento em que a estrutura científica e tecnológica construída a duras penas no País se encontra ameaçada não apenas pela crise das economias do mundo, mas também pela política interna de total desprestigio e desvalorização do papel do setor público, o que, potencialmente, levará a uma redução expressiva do ritmo de crescimento e de desenvolvimento socioeconômico nacional.

Temas correlatos a esse, como o da importância da democracia e o do impacto da diminuição dos gastos públicos em áreas estratégicas, perpassaram quase todas as atividades, desde as discussões em minicursos, chegando até às conferências e às mesas-redondas. Nos últimos anos em que o evento coincidiu com as eleições gerais, a SBPC se preocupou em convidar os principais candidatos ao posto de Presidente da República do Brasil para encontros/debates onde a comunidade científica e acadêmica poderia expor suas demandas e ouvir as propostas para a melhoria das condições de realização da ciência, da tecnologia e da educação. Infelizmente, a SBPC encontrou algumas dificuldades em envolver e contar com a participação de boa parte dos candidatos, o que pode ser sinal da falta de preocupação com o tema, por parte da classe política, em especial das candidaturas mais conservadoras ou de apelo religioso. Isso, porém, não diminuiu o impacto positivo percebido pelos frequentadores e participantes do encontro.

A reunião anual da SBPC também foi marcada pela diversidade de ideias e espaços, que, em 2018, aprofundaram ainda mais o caráter democrático do evento. Um dos destaques da programação foi a SBPC Afro e Indígena que praticamente promoveu um congresso dentro do congresso com apresentações de diversos trabalhos de pesquisa, alguns no formato pôster, mesas-redondas sobre assuntos sensíveis (como, por exemplo, os impactos gerados pela Base de Lançamento de Alcântara sobre as comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos localizadas nas redondezas), exibição de curtas-metragens seguidos de conversas com os realizadores, espaço de atividades e recreação infantil, oficinas e outros eventos culturais.

Havia ainda grandes áreas (como tendas de atividades da SBPC Jovem, SBPC Cultural, o pavilhão da ExpoT&C e outras) dedicadas a estandes de exibição de projetos, atividades e curiosos artefatos tecnológicos disponibilizados por várias entidades , organizações e institutos de pesquisas científicas, tudo acompanhado de perto por um grande público composto por pessoas de todas as idades. Viu-se ali, por exemplo, um espaço dedicado a conferências realizadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em temas diversos e de amplo interesse; exposições interativas da Marinha do Brasil com miniaturas de submarinos, embarcações e simuladores de outros veículos militares como os usados para a exploração da Antártida; explanações sobre o Programa Espacial Brasileiro onde os visitantes podiam ser fotografados com uma réplica de traje de astronauta e ao lado de CubSats (pequenos cubos de 10 cm de lado que compõem os modelos mais recentes de satélites); apresentações acerca das realizações mais recentes de institutos como o INT, o INPE etc., e de fundações de amparo à pesquisa de diversos estados.

Durante a semana, a parte final do dia era quase sempre dedicada a homenagens e reuniões administrativas das diversas organizações correlatas e da própria SBPC. E se engana quem pensa que tais reuniões e sessões especiais eram pouco atrativas ao público mais amplo. A média de frequência das salas em geral era de 100 pessoas e as sessões especiais de homenagem e organização das entidades representavam ótimas oportunidades de conhecer e observar de perto o funcionamento interno das agências e grupos de pesquisa. Muita gente se viu surpresa com o engajamento, participação e integração dos trabalhos no âmbito dessas instituições.

Destaca-se, ao final, a construção conjunta e a aprovação por unanimidade, em Assembleia Geral Ordinária dos Sócios da SBPC, do documento de moção oficialmente encaminhado ao governo brasileiro onde a entidade manifesta a sua preocupação com o futuro da educação e da ciência, bem como cobra medidas efetivas para evitar o crescimento da desigualdade no País, reivindicando, entre outras iniciativas, a revogação imediata da reforma do ensino médio (Lei nº 13.415/2017), implementada por meio da nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), e da Emenda Constitucional 95 (EC 95) que limita uma série de despesas do governo. Tal receio está longe de ser meramente especulativo frente aos cortes orçamentários realizados pelo governo nos últimos meses, que inclusive encontram evidência no anúncio recente da CAPES, através do qual os brasileiros foram informados da ameaça de suspensão de praticamente todos os aportes e fomentos científicos daquela agência, realizados no Brasil e no exterior, a partir do segundo semestre de 2019, caso não seja revista a atual política para o setor.

Depois da realização da 70ª Reunião Anual da SBPC, a frase presente na apresentação (versão impressa) do encontro mantém-se viva no espírito de todos que compareceram e compartilharam anseios, dúvidas, expectativas e ensinamentos sobre as possíveis trajetórias de formação do conhecimento científico com respeito ao conhecimento de origem tradicional: “a essência da SBPC, em seus 70 anos de existência, é defender o progresso e o avanço do conhecimento científico na construção de uma sociedade mais justa, democrática e solidária”. Seguramente, essa reunião ainda colherá muitos frutos ao estimular a divulgação científica de qualidade, capaz de convocar e envolver a sociedade no debate político sobre um projeto de País melhor para todos.

A iniciativa da Marcha pela Ciência e a proposta das candidaturas de pesquisadores para a formação da “Bancada do Conhecimento” no Congresso Nacional, esforços apoiados pela SBPC, sinalizam para o despertar desse grupo que, na moção supramencionada, denuncia: “está em curso um projeto acelerado de desconstrução do Brasil, que desrespeita o povo brasileiro e a soberania nacional. Os cortes e mudanças em áreas estratégicas para o País não foram discutidos com a sociedade, e estão sendo implementados por um governo que não tem a legitimidade do voto nem o apoio popular para fazê-los. As eleições de 2018, que devem ser livres e democráticas, desempenharão um papel crucial para a definição dos rumos do Brasil no século 21”.

Nós do SINDISEP/RJ acreditamos que será da ciência desenvolvida aqui no Brasil, que surgirão respostas para os nossos problemas, como para as doenças negligenciadas e para o desenvolvimento de tecnologias de uso social, a baixo custo. Por isso, nos somamos a esta luta em defesa do desenvolvimento científico e tecnológico soberano, baseado em ensino, pesquisas e extensão em instituições públicas, instrumentos fundamentais para o futuro do país, combatendo as desigualdades de classe e regionais, e atendendo a necessidade de acesso à educação, desenvolvimento e saúde públicas, gratuitas e universais por toda a população.

SINDISEP/RJ É PRA LUTAR!

Links para documentos e matérias:

http://portal.sbpcnet.org.br/wp-content/uploads/2018/07/Politicas-publicas-Brasil-que-queremos.pdf

http://www.jornaldaciencia.org.br/sbpc-lanca-manifesto-em-prol-da-ct-da-educacao-do-desenvolvimento-sustentavel-e-da-democracia-no-pais/

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/07/28/O-que-dizem-cientistas-brasileiros-neste-manifesto-da-SBPC

7 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page