O movimento dos trabalhadores no nosso país tem uma longa tradição de luta em defesa da emancipação de todo o povo brasileiro. Desde o século XIX na luta contra a escravidão os trabalhadores buscaram se organizar para defender seus interesses e buscar sobreviver nas piores condições de exploração que o capitalismo brasileiro desenvolveu ao longo desse período.
Durante o Império trabalhadores livres nas cidades buscaram a criação de associações mutualistas, onde se construíam caixas coletivos para garantir seu sustento na hora da doença, da velhice ou da morte, já que não existia seguridade social. Os escravizados na cidade e no campo, por sua vez, protagonizaram as primeiras lutas de rua, greves, revoltas e associações que visavam a defesa dos trabalhadores contra a exploração e sua libertação do jugo escravocrata.
Nesse primeiro momento a luta central na sociedade era a abolição da escravatura. Aqueles primeiros operários e operárias brasileiras, entre os quais muitos escravizados perceberam que enquanto houvesse escravidão nunca poderiam sonhar na emancipação e na conquista de direitos.
Assim muitas associações mutualistas de trabalhadores aderiram em massa à campanha abolicionista. Jornais foram fundados para propagandear a luta, quilombos, fugas e revoltas passaram a receber também o apoio material dessas associações. Os escravizados também buscaram construir suas próprias entidades que buscavam enfrentar os senhores.
Foi nessa conjuntura que se forjou a tradição de luta do movimento de trabalhadores, que apenas com o fim da escravidão e a proclamação da República passou a assumir uma característica sindical. A vitória da abolição foi uma vitória parcial. Os trabalhadores escravizados, agora livres, foram marginalizados e a imigração foi incentivada para servir aos projetos racistas de eugenia.
Isso fez com que esses personagens aproveitassem toda a experiência adquirida na luta abolicionista para tocar as lutas em defesa de sua classe. Já em 1890 o movimento operário apresentava a pauta da jornada de 8 horas. Greves se tornam pouco a pouco o principal instrumento de luta dos trabalhadores urbanos.
De fato nosso país era essencialmente agrário e apenas 10% da população vivia nas cidades naquele período. Mas é nessa época que a produção fabril começa a se expandir e consolidar, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo.
Nessa época o principal produto de exportação era o café. E toda a cadeia produtiva desse produto mobilizava muitos trabalhadores nos principais portos do país. Santos e Rio de Janeiro eram cidades repletas de carregadores, estivadores e trabalhadores responsáveis em garantir a exportação da principal fonte de enriquecimento dos latifundiários, ex-senhores de escravizados. Esses trabalhadores em quase sua totalidade eram libertos ou filhos de libertos.
Estava claro que a luta pela abolição não se completara. Não à toa que serão os estivadores e carregadores de café que vão protagonizar as primeiras organizações sindicais com forte repercussão na sociedade. As greves que na primeira década do século XX pararam a então capital federal foram protagonizadas por esses trabalhadores.
Outras categorias se mobilizaram fortemente nesse período. Gráficos, metalúrgicos, tecelões, costureiras, sapateiros e muitas outras categorias se organizaram e lutaram pelos direitos que temos hoje, como as férias, a jornada de 8 horas e direito de greve. A imigração incentivada pelo Estado aumentou de fato a tensão entre trabalhadores negros e brancos. Mas também favoreceu a circulação das ideias socialistas e anarquistas entre os trabalhadores.
Nesse período são organizados os primeiros congressos operários que vão consolidar a estrutura da organização dos primeiros sindicatos. Começam as discussões sobre a necessidade de se unificar as lutas de todas as categorias e surgem as primeiras propostas de greve geral.
Vai ser em 1917 que isso ocorrerá. 100 mil trabalhadores se mobilizaram em todo o país pelos direitos mais básicos. Esse movimento vai ser reprimido com toda a força pelos governos de plantão. Centenas de lideranças operárias são mandadas para campos de concentração no interior da amazônia ou, no caso dos imigrantes, são deportados sumariamente.
No entanto, essa repressão toda não abalou o espírito de luta da classe trabalhadora brasileira. Os sindicatos e o movimento sindical já era uma realidade e querendo as elites ou não os trabalhadores estavam organizados e sabiam lutar pelos seus direitos.
Ainda que demorasse mais um quarto de século para que a CLT fosse criada, nos anos posteriores a primeira greve geral começam a se consolidar as primeiras garantias para os trabalhadores. Muitas fábricas se viram sem alternativa a não ser colocar a jornada de 8 horas, as férias foram regulamentadas entre outras garantias.
Essa é a raiz do movimento sindical brasileiro a luta, acima de tudo, contra a exploração das oligarquias ou da burguesia. Essa história não pode ser apagada e o SINDISEP-RJ busca não apenas lembrar, mas dar continuidade a essa tradição de luta. Muitos e muitas lutaram, foram torturados, presos e morreram para que todos os direitos que a classe trabalhadora tem hoje fossem conquistados. Logo não há outro caminho senão a luta para garantirmos a manutenção e a ampliação dos nossos direitos hoje. Nosso passado não deixa nos enganar.
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